sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Sopro


        Meio piegas destilar palavras em momentos autopiedosos, porém são nesses exatos momentos que você realmente para, analisa e medi as situações que esteja vivendo, mesmo que seja numa perspectiva não muito animadora. Você entra no supermercado, compra os teus pãezinhos e sai e pronto, são nestes instantes, quando você repara que não repara nas coisas incomuns do cotidiano, nem tão incomuns, que começa incomodar, aí perceber que não está legal, que você nem notou que lá tinha a sobremesa que comera na casa da sua avó ou que uma senhora pedira para alcançar os pepinos em conserva na gôndola alta, uma senhora com óculos quadrados, cabelos ralos a baixo da orelha e queixudinha igual à amada velha que fazia aquela goiabada que só ela mesma. Isso salvaria um dia qualquer, quebraria a rotina e daria um sopro de vida, aquele sopro que você não sente há muito, que você torce que chegue como vendaval para ver se muda esta calmaria incômoda.


Mãos


"Puxei a fumaça do cigarro, soltei e olhei para frente. Te vi pela primeira vez. Você estava ali, me olhando, sem piscar e dizendo aos outros que ia ficar. Tomou o cigarro da minha mão, jogou fora, sorriu e disse 'vamos'. Me deu a mão e me levou para dentro da tua vida."

Rodopio




Tapou meus olhos, me rodopiou e me soltou...
E eu ainda estou aqui, 
sentindo o vento no rosto,
perdido no mesmo lugar,
tropeçando nos meus próprios pés,
sem saber se a sensação é boa ou ruim
com medo de que eu pare de rodar
e tenho que escolher qual direção tomar.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Há histórias que passam cabisbaixas pela calçada em frente de casa
Histórias tropeçando e a gente achando graça
Histórias sorridentes e cheias de trapaça
Fábulas sonhadoras ou um conto que não alça
Páginas e páginas lotadas ou frases naquele papel que qualquer um amassa
Grandes clássicos que com uma simples faísca, vira fumaça
Cabe a cada um decidir em que verso se dá o ar da graça
Se antes daquela vírgula ou entre o lobo mau e a caça
Só não pode ficar estagnado, porque o tempo passa
Aparecem as traças
A umidade devassa
E a morte aparece e te abraça.

segunda-feira, 28 de março de 2011

 

O sol ardia lá no alto acompanhado de poucas núvens que dançavam ao rítmo do vento. Carros discutiam, motos gritavam, ambos obedecendo o piscar de luzes. As plantas, pobres plantas  afogadas pelo chumbo folgado que nunca vai embora. O mar doentio e cansado usava sua coroa de prédios. Pessoas sonolentas  sentadas no ônibus trôpego, lendo algo banal ou tentando salvar o sono asfixiado. E eu, pintando um cenário sem tinta e pincel, um artista de vanguarda criando quadros com tons de cinza.

Que me faça rir...

...com as piadas mais tolas, não vendo malícia em tudo, pois não há nada mais sagrado que a inocência. Que consiga dialogar apenas com o olhar. Que pensa antes de falar e fale antes de pensar dependendo da ocasião. Que a ociosidade da juventude é pertubadora. Que enxerga a felicidade em pequenas coisas e que saiba que chorar não é uma vergonha . Que discuta hipóteses de como mudar o mundo. Que lamenta o porquê de não termos sido jovens nos anos 70 e o porquê das músicas de hoje não terem alma como as de antigamente. Que sabe que a melhor mentira não substitui a pior verdade. Que a amizade é a base de tudo. Que entenda que as pessoas tem mais defeitos que qualidades. Que percebe que par perfeito é apenas uma ideia, algo abstrato. E que tenha a noção de que o amor não é eterno, mas as lembranças devem ser para sempre.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Traquinando o T da Política


Textos tardios de uma talentosa turma turbinam 
o tempo de todos que não temiam a não-tolerância, 
tornando-se táctil tudo que transcendia, 
transpondo títulos, tombando tiranos e tenentes 
com uma tranquilidade sem trema. 
Tumultuando tucanos e trabalhadores. 
Transformando a tentadora teoria em tradição. 
Todos se tratando com ternura. 
Tornando triviais tréguas e tratados, 
triunfando todos desta terra que não tem
T.